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European Journal of Education Studies ISSN: 2501 - 1111 ISSN-L: 2501 - 1111 Available on-line at: www.oapub.org/edu Volume 3 │ Issue 3 │ 2017 doi: 10.5281/zenodo.291993 FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS: EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE?i Cláudio José de Souza1ii, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente2 1 Enfermeiro, Docente da Graduação e Pós-Graduação da Faculdade Bezerra de Araújo (FABA), Especialista em Docência Superior, Educação Profissional na Área de Saúde: Enfermagem, Coordenação Pedagógica e Planejamento e Mestre em Ciências do Cuidado em Saúde pela Universidade Federal Fluminense – UFF, Rio de Janeiro, Brasil 2 Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora Adjunta de Departamento de Fundamentos de Enfermagem e Administração da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense – UFF, Rio de Janeiro, Brasil Abstract: The objective of this article was to reflect on undergraduate Nursing education based on competencies, besides pointing out the challenges and perspectives in the teaching profession for the 21st century, in the light of the reference Philippe Perrenoud. It is a theoretical reflection, based on the deepening of the master's thesis, whose object of research was the teaching competences for the completion of theoretical-practical knowledge in nursing teaching. In an approach focused on the development of competences, both the teaching profession and the professional praxis of students, teaching is understood as a strategy that enables the integration of theoretical-practical teaching in Nursing graduation. The need for an emancipatory, democratic, critical and reflexive higher education is thus reaffirmed, enabling a differentiated teaching and adding values for a more scientific and autonomous Nursing, with a view to the development of professional competences. Keywords: competency-based education; nursing faculty practice; higher education PEDAGOGICAL TRAINING OF THE NURSING TEACHER BASED ON COMPETENCES: REQUIREMENT OR NEED? i Copyright © The Author(s). All Rights Reserved. © 2015 – 2017 Open Access Publishing Group 241 Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS: EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE? Resumo: O objetivo deste artigo foi refletir sobre o ensino de graduação em Enfermagem baseada nas competências, além de apontar os desafios e as perspectivas no ofício docente para o século XXI, à luz do referencial Philippe Perrenoud. Trata-se de uma reflexão teórica, a partir do aprofundamento da dissertação de mestrado, cujo objeto de pesquisa foi as competências docentes para a integralização do conhecimento teórico-prático no ensino de Enfermagem. Numa abordagem voltada ao desenvolvimento de competências, tanto ao ofício docente, quanto à práxis profissional dos discentes, compreende-se o ensino como uma estratégia que possibilita a integração do ensino teórico-prático na graduação em Enfermagem. Reafirma-se, assim, a necessidade de uma educação superior emancipatória, democrática, crítica e reflexiva, possibilitando um ensino diferenciado e agregando valores para uma Enfermagem mais científica e autônoma, com vistas ao desenvolvimento de competências profissionais. Palavras-chave: educação baseada em competências; prática do docente de enfermagem; ensino superior 1. Introdução Devido ao aprofundamento realizado após a leitura de algumas obras, como requisito para a confecção do referencial teórico, além de discussões da dissertação de mestrado, surgiu a inquietação em relação ao que realmente se quer falar quando se refere ao termo competência em educação , ou ensino baseado em competências . Não obstante, procurou-se percorrer uma linha do tempo, trazendo como e quando esse conceito passou a ser inserido na sociedade, e absorvido como meta na educação e na saúde, até os dias atuais. Discutir a formação e o trabalho do docente enfermeiro frente à noção de competências, que passa a entremear o campo educacional a partir da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Nacional 9394/96 (BRASIL, 1996), e face à pluralidade e à polissemia que possui o termo competência, a pretensão aqui não é só esgotar as discussões até então realizadas acerca da(s) competência(s), mas fomentar espaço para as reflexões pautadas nas contextualizações feitas e refeitas por educadores nessa temática como – Philippe Perrenoud (Perrenoud, 2000). Sem dúvida, é preciso cuidado com as definições vernaculares principalmente quanto ao contexto em que elas são utilizadas, pois, dependendo da área em que irá empregá-la, elas poderão não dizer ou dizer pela metade, e, ainda, disfarçar o que se apresenta. Primeiro porque o termo é único segundo, porque os conceitos são polissêmicos e plurais. Caso mantenha a ideia de um único conceito, faz-se necessário compreender que se trata de um conceito de múltiplas significações e por isso carece de European Journal of Education Studies - Volume 3 │ Issue 3 │ 2017 242 Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS: EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE? estudos e reflexões que clarifiquem tal definição, principalmente quando se refere à educação (DIAS, 2010). Por esse motivo, analisa-se a importância do emprego do termo competência e a área de conhecimento que primeiro se apropriou dele. As competências para ensinar constituem uma nova versão dessas idéias, que assegurou lugar de realce na década de 1970 e início da década de 1980, estando direcionadas, em suas origens, à formação tecnicista e, pouco mais tarde, ao êxito na formação de engenheiros, e sendo assimiladas pela Administração e, em seguida, recebidas com admiração pela área da Educação e da Saúde (Silva; Felicetti, 2014). A formação por competência possui em seus primórdios a necessidade de manter o profissional em seu ambiente de trabalho, como um instrumento para designar qualidade no serviço , fazendo com que ele, sobrevivesse às adaptações e às mudanças sociais mesmo com transformações organizacionais, que, na atualidade ocorrem em ritmo acelerado, com o objetivo de manter o padrão exigido pelas organizações, pela sociedade e pelos usuários (Bonfim, 2012). No ensino na Enfermagem isso não foi muito diferente. A profissão foi influenciada pelas mudanças de paradigmas, pelo sistema e, principalmente, pelo poderes políticos e econômicos, tornando-se relevante o repensar e o refletir quanto às práticas, para atender não só as necessidades do mundo contemporâneo, mas, constituir um agente transformador do contexto ao qual se encontra inserido (Silva; Silva; Ravalia, 2009). Transitando por entre os processos de reformas no ensino em saúde e contextualizada na própria história da Enfermagem, que, com o passar dos tempos, obteve destaque em razão das maneiras de pensar e repensar as ações e as práticas de Enfermagem diferentemente do que antes se fazia, essa evolução encontra-se arraigadas desde a sua oficialização repercutindo as maneiras de fazer e ser a Enfermagem nos dias atuais. Isso porque o contexto em que a enfermagem se insere, vem se modificando por meio de paradigmas que possa atender as demandas e as necessidades atuais. Assim, baseando-se nas repercussões do que significa um ensino baseado em competências decidiu-se refletir sobre o que nos propõe o autor (Perrenoud, 2000), que esmiúça e defende a necessidade de dez novas competências para ensinar para o século XXI, além de quais as lacunas que essas dez grande família e subfamília de competências possibilita explorar com o intuito de promover um ensino de qualidade voltado ao desenvolvimento das competências no ofício docente contribuindo assim, para um ensino emancipador crítico-reflexivo possibilitando aos discentes serem protagonistas de sua própria história. Essa análise e reflexão justificam-se pelas discussões realizadas no final deste último século, tanto com o relatório produzido em Delors, como pelo fomento do European Journal of Education Studies - Volume 3 │ Issue 3 │ 2017 243 Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS: EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE? desenvolvimento das competências pelas Diretrizes Curriculares Nacionais no ensino superior de enfermagem (Brasil, 2001). 2. Objetivo Assim objetivou-se refletir o significado de educação baseada em competência e contextualizar o ensino de enfermagem quanto às antigas propostas e os novos desafios. 3. Referencial teórico Philippe Perrenoud é Doutor em Sociologia e Antropologia e Educador docente da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, na Universidade de Genebra, das áreas de currículo escolar, práticas pedagógicas e instituições de formação. É também diretor do Laboratório de Pesquisa sobre a Inovação na Formação e na Educação (LIFE) em Genebra. Ao remeter às competências na área de educação, Perrenoud se tornou um dos ícones nessa linha de pesquisa, sendo referência no Brasil e no mundo com seus estudos. Em sua obra o autor (Perrenoud, 1999), destaca que o perfil do docente para os dias atuais precisa estar em conformidade com as transições e mudanças ocorridas no cenário em que a educação insere. Enfatiza que o docente precisa ter atrelado ao seu perfil profissional, não somente o saber/conhecimento do conteúdo a ser ministrado, mas poder mobilizá-lo conforme a necessidade. E, para isso o docente pode utilizar estratégias de ensino que o auxiliarão nesse ato de ensinar, possibilitando tanto o crescimento pessoal, enquanto docentes, quanto individual e coletivo, dos discentes. Frente à atualidade em que se vive e atua, o docente deve transpor barreiras quando se trata do hiato sobre o ensino tradicional e o contemporâneo e porque não entre o ensino teórico e o prático? Assim, para o ato de ensinar, nos dias atuais, o docente precisa contextualizar situações que vão desde a mobilização profunda sobre o conteúdo proposto, perpassando pelas associações com outras disciplinas que compõem a estrutura da matriz curricular, ou seja, a interdisciplinaridade, o Projeto Político Pedagógico do curso, os setores acadêmicos em que estão inseridos, visto que os tempos de hoje são totalmente diferentes dos passados. Para o autor a competência profissional (Perrenoud, 2000), consiste na busca de um amplo repertório de dispositivos e de sequencias em sua adaptação ou construção, bem como na identificação, com tanta perspicácia quanto possível, que os docentes mobilizam e ensinam. Assim, o autor sugere que esse docente arregimente recursos didáticos que compõem os fatores essenciais e exequíveis para a resolução das situações-problema encontradas diariamente no contexto educacional. O manifesto referente à fala do autor European Journal of Education Studies - Volume 3 │ Issue 3 │ 2017 244 Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS: EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE? é de que para ele, o conhecimento não pode ser um atributo estático, isso porque o incremento desse conhecimento deve estar sempre em movimento, seja na apreensão de novos métodos, fórmulas, maneiras de conceber o saber, na utilização de novas estratégias, bem como, na tentativa de desenvolver o novo e o desconhecido, a partir das novas experiências e práticas vivenciadas por esse grupo de docentes. A integração entre o ensino teórico e prático é uma das propostas sugeridas por Perrenoud (2002), quando ele sugere trabalhar a partir das representações dos discentes. O importante é dar regularmente direitos a tais representações nas aulas, interessar-se por elas, tentar compreender suas raízes e sua coerência, e não se surpreender se elas surgirem novamente quando as julgávamos ultrapassadas. Para isso, deve-se abrir um espaço de discussão, sem censurar imediatamente as analogias falaciosas, as explicações animistas ou antropomórficas e os raciocínios espontâneos, sob pretexto de que levam a conclusões errôneas. Sob esse olhar, quando o docente percebe que ele é um ser inacabado e se mantém incessantemente à procura de novos meios para contribuir com o processo ensino- aprendizagem de seus discentes e da comunidade acadêmica, lança mão de algumas competências com vistas ao desenvolvimento de outras. Desenvolver competências não é contentar-se em ter seguido rigidamente um programa, mas, não parar sua construção e testagem. A preocupação inicial não deve ser com a maneira como será ministrado o conteúdo programático, desde que este contemple de maneira homogênea a apreensão do saber por parte dos discentes. No entanto, o docente deve investir em novas estratégias de ensino com o objetivo de tornar o método mais prazeroso, e dinâmico e de despertar o olhar discente quanto à aplicabilidade do conteúdo ministrado com sua práxis profissional (Perrenoud, 2000). As mudanças de paradigmas ocorridas no processo ensino aprendizagem desse docente requerem antes de tudo, o compromisso pessoal com sua profissão, segundo a clarificação de que para assumir tal responsabilidade, ele deve deixar sua zona de conforto, ou seja, as aulas pré-montadas; os discursos decorados; as repetições de metodologias inexequíveis e, algumas vezes os estilos pedagógicos que pouco estimulam a participação dos sujeitos. O docente deve caminhar ao novo, e desconhecido, que traz consigo desafios diários, na tentativa de sanar e responder as demandas cotidianas discentes, comunidade acadêmica e da sociedade 9. Nesse sentido, compreende-se que o verdadeiro ofício docente é dar respostas as perguntas implícitas e explícitas da arte de ensinar. Logo, percebe-se que essa dinâmica agrega valores ao ofício docente, favorecendo o desenvolvimento de uma metodologia pró-ativa voltada ao exercício das competências. Supõe-se, desse modo, que o docente será capaz de desenvolver virtudes que num dado momento se transformarão em competências nesse ofício de ensinar, instrumentalizando o futuro egresso para atuar European Journal of Education Studies - Volume 3 │ Issue 3 │ 2017 245 Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS: EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE? nas diversas situações que a atuação docente abrange, seja em sala de aula ou campo de estágio. Nessa ótica segundo o autor (Perrenoud, 2002), não se pode imaginar uma abordagem por competências que não seja facilmente sensível às diferenças, a partir do momento em que os alunos são colocados em situações em que, supostamente, aprendem fazendo e refletindo sobre os obstáculos encontrados no dia a dia do contexto acadêmico. Assim, o autor sugere Dez Grandes Famílias de Competências sendo que para cada grande família esta subdivide-se em subfamílias que ao integrar-se propõe um ensino voltado ao desenvolvimento de competências tanto no oficio docente quanto discente. São elas: Organizar e dirigir situações de aprendizagem; Administrar a progressão das aprendizagens; Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação; Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho; Trabalhar em equipe; Participar da administração da escola; Informar e envolver os pais; Utilizar novas tecnologias; Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; Administrar sua própria formação contínua. (Perrenoud, 2000, p.12-12). 4. O ensino baseado em competências Se a abordagem por competências não passar de uma linguagem da moda, ela modificará apenas os textos e será rapidamente esquecida. Se sua ambição for a transformação das práticas, ela passará a ser uma reforma do terceiro tipo, que não pode economizar um debate sobre o sentido e as finalidades das academias e, tampouco, instalar-se em um profundo divórcio entre aquilo que os docentes pensam e aquilo que o sistema espera dela. Construir competências desde a escola requer paciência e longo tempo (Perrenoud, 1999). No ensino de graduação em Enfermagem isso não fica tão distante assim, à medida que a profissão é influenciada pelo sistema. O repensar e o refletir sobre a prática diária do ofício docente são necessários, para atender não só as necessidades do mundo político e econômico, mas para mudar o contexto e o cenário em que a prática diária docente encontra-se inserida que é no contexto sócio-cultural. Ao preconizar um ensino baseado em competências para o ensino de graduação em enfermagem, atesta-se que nenhum docente pode ser competente sozinho, visto que ele precisa inserir e articular os saberes de outras áreas do conhecimento dentro de sua disciplina ou área de atuação. Se nesse processo de ensino, houver falhas/deficiências na aprendizagem, notoriamente o docente precisará não somente mobilizar seus conhecimentos, mas também buscar auxílio em outras áreas de conhecimento, na tentativa de que essa apreensão do saber aconteça não somente como uma avaliação somativa, mas, que esse saber se dê de maneira duradoura e que possa ser útil para a vida social e profissional desse indivíduo. European Journal of Education Studies - Volume 3 │ Issue 3 │ 2017 246 Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS: EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE? Frente à pluralidade de significados atribuídos à palavra competência, Perrenoud (1999, p. 7), prefere defini-la como: uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiado em conhecimento, mas sem limitar-se a eles . Esse mesmo autor Perrenoud, , p. , em outra definição diz que: a competência profissional consiste na busca de um amplo repertório de dispositivos e de sequência na sua adaptação ou construção, bem como, na identificação, com tanta perspicácia quanto possível, que mobilizam e ensinam . Todavia, ratifica que essa competência é uma capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar um tipo de situação-problema. Assim as definições remetem à importância da articulação de determinados recursos que utilizam, integram ou mobilizam tais conhecimentos que relacionados à prática docente transformam-se em competências a partir das interpretações, interpolações, inferências, invenções. Em suma, são complexas operações mentais, cujo produto deve ser o encontro de estratégias para uma prática docente democrática, revolucionária e competente. 5. O ensino de Enfermagem baseado em competências: antigas propostas e novos desafios O ensino nos moldes de bacharelado, como é oferecido na graduação de Enfermagem, visa, em uma primeira instância ao preparo do profissional para uma atuação generalista. São reduzidas a preocupação e a preparação desses futuros egressos em relação a uma visão pedagógica à prática docente cenário este que, nos últimos anos, tornou-se mais uma opção de campo de trabalho para o profissional de Enfermagem, pelo aumento significativo de escolas de Enfermagem no Brasil (Junior, 2008). Barbosa e Viana (2008), traçam a trajetória da formação do enfermeiro docentes e dos cursos de graduação de enfermagem no Brasil pontuando documentos legais desde 1960 a 2007. A discussão inicia-se pela LDB nacional em 1961, passando a Reforma Universitária em 1968 e chegando ao marco na década de 1970 com a oficialização dos cursos lato e stricto senso, culminando na LDB vigente n° 9.394/1996. Para as autoras, a formação docente, na atualidade, transcende os modelos antigos, tornando-se essencial a criação de espaços acadêmicos para a reflexão e discussão sobre o que a atualidade exige quanto ao ensino de Enfermagem para o novo século. Nesse cenário promissor fomentado pelas LDB vigente, a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais – (DCNs), para o curso de Graduação de Enfermagem, propõe princípios conceituais, filosóficos e metodológicos quanto a necessidade de mudança no ensino de Enfermagem, mudanças estas que apontam as estratégias de ensino- aprendizagem como elementos relevantes na construção de uma nova proposta pedagógica para a formação do enfermeiro (Fernandes, et al , 2005). European Journal of Education Studies - Volume 3 │ Issue 3 │ 2017 247 Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS: EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE? Ao analisar a complexidade da temática em questão – (DCNs e Projetos Pedagógicos), Mandú (2003), defende a necessidade de se ter uma política nacional de investimentos que garanta as condições de mudanças quanto ao panorama atual do ensino de Enfermagem. Aponta ainda, uma correlação entre o setor de educação e o da saúde delineando a partir das DCNs, estratégias para sua implementação. Termina por enfatizar em seu discurso que o ensino voltado ao desenvolvimento de competência é uma proposta sedutora e que se bem aplicada pode dar conta do que o ensino propõe, que é a responsabilidade social, sendo capaz de formar e transformar os cidadãos. Corroborando a ideia de que o ensino por competências seja uma das possíveis saídas para o ensino de graduação de Enfermagem, Vale e Guedes (2004), contextualizam a discussão ratificando que a construção do ensino pautado nas competências faz parte de um conjunto de ações que podem viabilizar uma melhor formação para que o futuro egresso possa enfrentar as situações do cotidiano de maneira consciente e segura. E, por meios dessas competências, seja possível direcionar o ensino com vistas a associar a integralidade do fazer em saúde, como base no aprender a fazer e no aprender a ser. O relatório de Delors (2005) destaca, como ferramentas importantes nessa proposta pedagógica, quatro pilares para o desenvolvimento de competências: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. As discussões realizadas e enfatizadas no relatório incitam a abordagem por competências, na atualidade como ferramentas indispensável à formação profissional do mundo moderno. Esse método, segundo as autoras pode desvelar os nós a serem superados na conformação de um profissional de enfermagem crítico, competente e agente de transformação social. Após a tentativa de compreender os critérios essenciais para execução das propostas pedagógicas voltadas ao ensino por competências podem ser aplicados na formação dos enfermeiros, Pode-se destacar: os caminhos e pressupostos pedagógicos; a abordagem curricular por competências; o ensino de enfermagem; a avaliação formativa. Em análise, apontam que o ensino por competências traz questões complexas, que são merecedoras de reflexão e de discussão principalmente no campo da prática. Compreende-se assim, que o ensino por competências vai de encontro à transformação e dos paradigmas e conceitos atuais, desde que os docentes tenham uma formação e um cenário que permitam a inserção dessa nova modalidade de ensino. Ao compreender que o ensino de enfermagem se dá em ambiente específico seja na sala de aula ou no campo prático, devem ser acionadas estratégias de ensino que possam contemplar a complexidade daquilo que esteja ensinando. Essa associação possibilita dentro do ensino de Enfermagem, seja no campo Educacional, Assistencial ou Gerencial um pensar e um agir pautados na ação ética e política, viabilizando um profissional reflexivo, competente e mais autônomo (Lessa; Araujo, 2013) European Journal of Education Studies - Volume 3 │ Issue 3 │ 2017 248 Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS: EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE? 7. Conclusão O intuito dessa discussão e reflexão foi amplificar e fomentar o discurso sobre o ensino baseado em competências. Enquanto indivíduos e profissionais inacabados estamos em constante processo de formação, o qual perpassa por algumas variáveis, que é a busca do conhecimento. Conhecimento este que se aprimora numa velocidade infindável e que enquanto agente transformador da realidade seja, no âmbito acadêmico seja no hospitalar deve ser acompanhado, com o propósito de atender as demandas vigentes exercendo a profissão de enfermagem com autonomia, mas pautado no conhecimento técnico-científico. A prática docente precisa ser pensada e repensada. A proposta pedagógica voltada ao desenvolvimento de competências estimula a prática reflexiva, tanto do docente quanto do discente. A formação permanente do profissional pode ser a resposta tão almejadas na atualidade, a tal reflexão com vistas ao desenvolvimento de competências. Referências 1. Barbosa ECV, Viana LO. Um olhar sobre a formação do enfermeiro/docente no Brasil. Rev Enferm UERJ. [Internet]. v.16, n.3, p.399-344, 2008. Disponível em: http://www.facenf.uerj.br/v16n3/v16n3a07.pdf 2. Bonfim, R. A. Competência profissional: uma revisão bibliográfica. Revista Organização Sistêmica. v.1, n.1. p.46-63, 2012. 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European Journal of Education Studies - Volume 3 │ Issue 3 │ 2017 250 Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS: EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE? Creative Commons licensing terms Author(s) will retain the copyright of their published articles agreeing that a Creative Commons Attribution 4.0 International License (CC BY 4.0) terms will be applied to their work. Under the terms of this license, no permission is required from the author(s) or publisher for members of the community to copy, distribute, transmit or adapt the article content, providing a proper, prominent and unambiguous attribution to the authors in a manner that makes clear that the materials are being reused under permission of a Creative Commons License. Views, opinions and conclusions expressed in this research article are views, opinions and conclusions of the author(s). 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