European Journal of Education Studies
ISSN: 2501 - 1111
ISSN-L: 2501 - 1111
Available on-line at: www.oapub.org/edu
Volume 3 │ Issue 3 │ 2017
doi: 10.5281/zenodo.291993
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA
EM COMPETÊNCIAS: EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE?i
Cláudio José de Souza1ii,
Geilsa Soraia Cavalcanti Valente2
1
Enfermeiro, Docente da Graduação e Pós-Graduação da Faculdade Bezerra de Araújo (FABA),
Especialista em Docência Superior, Educação Profissional na Área de Saúde: Enfermagem,
Coordenação Pedagógica e Planejamento e Mestre em Ciências do Cuidado em Saúde pela
Universidade Federal Fluminense – UFF, Rio de Janeiro, Brasil
2
Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora Adjunta de Departamento de Fundamentos de
Enfermagem e Administração da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da
Universidade Federal Fluminense – UFF, Rio de Janeiro, Brasil
Abstract:
The objective of this article was to reflect on undergraduate Nursing education based on
competencies, besides pointing out the challenges and perspectives in the teaching
profession for the 21st century, in the light of the reference Philippe Perrenoud. It is a
theoretical reflection, based on the deepening of the master's thesis, whose object of
research was the teaching competences for the completion of theoretical-practical
knowledge in nursing teaching. In an approach focused on the development of
competences, both the teaching profession and the professional praxis of students,
teaching is understood as a strategy that enables the integration of theoretical-practical
teaching in Nursing graduation. The need for an emancipatory, democratic, critical and
reflexive higher education is thus reaffirmed, enabling a differentiated teaching and
adding values for a more scientific and autonomous Nursing, with a view to the
development of professional competences.
Keywords: competency-based education; nursing faculty practice; higher education
PEDAGOGICAL TRAINING OF THE NURSING TEACHER BASED ON COMPETENCES:
REQUIREMENT OR NEED?
i
Copyright © The Author(s). All Rights Reserved.
© 2015 – 2017 Open Access Publishing Group
241
Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS:
EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE?
Resumo:
O objetivo deste artigo foi refletir sobre o ensino de graduação em Enfermagem baseada
nas competências, além de apontar os desafios e as perspectivas no ofício docente para
o século XXI, à luz do referencial Philippe Perrenoud. Trata-se de uma reflexão teórica,
a partir do aprofundamento da dissertação de mestrado, cujo objeto de pesquisa foi as
competências docentes para a integralização do conhecimento teórico-prático no ensino
de Enfermagem. Numa abordagem voltada ao desenvolvimento de competências, tanto
ao ofício docente, quanto à práxis profissional dos discentes, compreende-se o ensino
como uma estratégia que possibilita a integração do ensino teórico-prático na
graduação em Enfermagem. Reafirma-se, assim, a necessidade de uma educação
superior emancipatória, democrática, crítica e reflexiva, possibilitando um ensino
diferenciado e agregando valores para uma Enfermagem mais científica e autônoma,
com vistas ao desenvolvimento de competências profissionais.
Palavras-chave: educação baseada em competências; prática do docente de
enfermagem; ensino superior
1. Introdução
Devido ao aprofundamento realizado após a leitura de algumas obras, como requisito
para a confecção do referencial teórico, além de discussões da dissertação de mestrado,
surgiu a inquietação em relação ao que realmente se quer falar quando se refere ao
termo competência em educação , ou ensino baseado em competências . Não obstante,
procurou-se percorrer uma linha do tempo, trazendo como e quando esse conceito
passou a ser inserido na sociedade, e absorvido como meta na educação e na saúde, até
os dias atuais.
Discutir a formação e o trabalho do docente enfermeiro frente à noção de
competências, que passa a entremear o campo educacional a partir da Lei de Diretrizes
e Bases (LDB) da Educação Nacional 9394/96 (BRASIL, 1996), e face à pluralidade e à
polissemia que possui o termo competência, a pretensão aqui não é só esgotar as
discussões até então realizadas acerca da(s) competência(s), mas fomentar espaço para
as reflexões pautadas nas contextualizações feitas e refeitas por educadores nessa
temática como – Philippe Perrenoud (Perrenoud, 2000).
Sem dúvida, é preciso cuidado com as definições vernaculares principalmente
quanto ao contexto em que elas são utilizadas, pois, dependendo da área em que irá
empregá-la, elas poderão não dizer ou dizer pela metade, e, ainda, disfarçar o que se
apresenta. Primeiro porque o termo é único segundo, porque os conceitos são
polissêmicos e plurais. Caso mantenha a ideia de um único conceito, faz-se necessário
compreender que se trata de um conceito de múltiplas significações e por isso carece de
European Journal of Education Studies - Volume 3 │ Issue 3 │ 2017
242
Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS:
EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE?
estudos e reflexões que clarifiquem tal definição, principalmente quando se refere à
educação (DIAS, 2010).
Por esse motivo, analisa-se a importância do emprego do termo competência e
a área de conhecimento que primeiro se apropriou dele. As competências para ensinar
constituem uma nova versão dessas idéias, que assegurou lugar de realce na década de
1970 e início da década de 1980, estando direcionadas, em suas origens, à formação
tecnicista e, pouco mais tarde, ao êxito na formação de engenheiros, e sendo assimiladas
pela Administração e, em seguida, recebidas com admiração pela área da Educação e da
Saúde (Silva; Felicetti, 2014).
A formação por competência possui em seus primórdios a necessidade de
manter o profissional em seu ambiente de trabalho, como um instrumento para
designar qualidade no serviço , fazendo com que ele, sobrevivesse às adaptações e às
mudanças sociais mesmo com transformações organizacionais, que, na atualidade
ocorrem em ritmo acelerado, com o objetivo de manter o padrão exigido pelas
organizações, pela sociedade e pelos usuários (Bonfim, 2012).
No ensino na Enfermagem isso não foi muito diferente. A profissão foi
influenciada pelas mudanças de paradigmas, pelo sistema e, principalmente, pelo
poderes políticos e econômicos, tornando-se relevante o repensar e o refletir quanto às
práticas, para atender não só as necessidades do mundo contemporâneo, mas, constituir
um agente transformador do contexto ao qual se encontra inserido (Silva; Silva; Ravalia,
2009).
Transitando por entre os processos de reformas no ensino em saúde e
contextualizada na própria história da Enfermagem, que, com o passar dos tempos,
obteve destaque em razão das maneiras de pensar e repensar as ações e as práticas de
Enfermagem diferentemente do que antes se fazia, essa evolução encontra-se arraigadas
desde a sua oficialização repercutindo as maneiras de fazer e ser a Enfermagem nos
dias atuais. Isso porque o contexto em que a enfermagem se insere, vem se modificando
por meio de paradigmas que possa atender as demandas e as necessidades atuais.
Assim, baseando-se nas repercussões do que significa um ensino baseado em
competências decidiu-se refletir sobre o que nos propõe o autor (Perrenoud, 2000), que
esmiúça e defende a necessidade de dez novas competências para ensinar para o século
XXI, além de quais as lacunas que essas dez grande família e subfamília de
competências possibilita explorar com o intuito de promover um ensino de qualidade
voltado ao desenvolvimento das competências no ofício docente contribuindo assim,
para um ensino emancipador crítico-reflexivo possibilitando aos discentes serem
protagonistas de sua própria história.
Essa análise e reflexão justificam-se pelas discussões realizadas no final deste
último século, tanto com o relatório produzido em Delors, como pelo fomento do
European Journal of Education Studies - Volume 3 │ Issue 3 │ 2017
243
Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS:
EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE?
desenvolvimento das competências pelas Diretrizes Curriculares Nacionais no ensino
superior de enfermagem (Brasil, 2001).
2. Objetivo
Assim objetivou-se refletir o significado de educação baseada em competência e
contextualizar o ensino de enfermagem quanto às antigas propostas e os novos desafios.
3. Referencial teórico
Philippe Perrenoud é Doutor em Sociologia e Antropologia e Educador docente da
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, na Universidade de Genebra, das
áreas de currículo escolar, práticas pedagógicas e instituições de formação. É também
diretor do Laboratório de Pesquisa sobre a Inovação na Formação e na Educação (LIFE)
em Genebra. Ao remeter às competências na área de educação, Perrenoud se tornou um
dos ícones nessa linha de pesquisa, sendo referência no Brasil e no mundo com seus
estudos.
Em sua obra o autor (Perrenoud, 1999), destaca que o perfil do docente para os
dias atuais precisa estar em conformidade com as transições e mudanças ocorridas no
cenário em que a educação insere. Enfatiza que o docente precisa ter atrelado ao seu
perfil profissional, não somente o saber/conhecimento do conteúdo a ser ministrado,
mas poder mobilizá-lo conforme a necessidade. E, para isso o docente pode utilizar
estratégias de ensino que o auxiliarão nesse ato de ensinar, possibilitando tanto o
crescimento pessoal, enquanto docentes, quanto individual e coletivo, dos discentes.
Frente à atualidade em que se vive e atua, o docente deve transpor barreiras
quando se trata do hiato sobre o ensino tradicional e o contemporâneo e porque não
entre o ensino teórico e o prático? Assim, para o ato de ensinar, nos dias atuais, o
docente precisa contextualizar situações que vão desde a mobilização profunda sobre o
conteúdo proposto, perpassando pelas associações com outras disciplinas que
compõem a estrutura da matriz curricular, ou seja, a interdisciplinaridade, o Projeto
Político Pedagógico do curso, os setores acadêmicos em que estão inseridos, visto que
os tempos de hoje são totalmente diferentes dos passados.
Para o autor a competência profissional (Perrenoud, 2000), consiste na busca de
um amplo repertório de dispositivos e de sequencias em sua adaptação ou construção,
bem como na identificação, com tanta perspicácia quanto possível, que os docentes
mobilizam e ensinam.
Assim, o autor sugere que esse docente arregimente recursos didáticos que
compõem os fatores essenciais e exequíveis para a resolução das situações-problema
encontradas diariamente no contexto educacional. O manifesto referente à fala do autor
European Journal of Education Studies - Volume 3 │ Issue 3 │ 2017
244
Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS:
EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE?
é de que para ele, o conhecimento não pode ser um atributo estático, isso porque o
incremento desse conhecimento deve estar sempre em movimento, seja na apreensão de
novos métodos, fórmulas, maneiras de conceber o saber, na utilização de novas
estratégias, bem como, na tentativa de desenvolver o novo e o desconhecido, a partir
das novas experiências e práticas vivenciadas por esse grupo de docentes.
A integração entre o ensino teórico e prático é uma das propostas sugeridas por
Perrenoud (2002), quando ele sugere trabalhar a partir das representações dos discentes.
O importante é dar regularmente direitos a tais representações nas aulas, interessar-se
por elas, tentar compreender suas raízes e sua coerência, e não se surpreender se elas
surgirem novamente quando as julgávamos ultrapassadas. Para isso, deve-se abrir um
espaço de discussão, sem censurar imediatamente as analogias falaciosas, as explicações
animistas ou antropomórficas e os raciocínios espontâneos, sob pretexto de que levam a
conclusões errôneas.
Sob esse olhar, quando o docente percebe que ele é um ser inacabado e se
mantém incessantemente à procura de novos meios para contribuir com o processo
ensino- aprendizagem de seus discentes e da comunidade acadêmica, lança mão de
algumas competências com vistas ao desenvolvimento de outras.
Desenvolver competências não é contentar-se em ter seguido rigidamente um
programa, mas, não parar sua construção e testagem. A preocupação inicial não deve
ser com a maneira como será ministrado o conteúdo programático, desde que este
contemple de maneira homogênea a apreensão do saber por parte dos discentes. No
entanto, o docente deve investir em novas estratégias de ensino com o objetivo de
tornar o método mais prazeroso, e dinâmico e de despertar o olhar discente quanto à
aplicabilidade do conteúdo ministrado com sua práxis profissional (Perrenoud, 2000).
As mudanças de paradigmas ocorridas no processo ensino aprendizagem desse
docente requerem antes de tudo, o compromisso pessoal com sua profissão, segundo a
clarificação de que para assumir tal responsabilidade, ele deve deixar sua zona de
conforto, ou seja, as aulas pré-montadas; os discursos decorados; as repetições de
metodologias inexequíveis e, algumas vezes os estilos pedagógicos que pouco
estimulam a participação dos sujeitos. O docente deve caminhar ao novo, e
desconhecido, que traz consigo desafios diários, na tentativa de sanar e responder as
demandas cotidianas discentes, comunidade acadêmica e da sociedade 9.
Nesse sentido, compreende-se que o verdadeiro ofício docente é dar respostas as
perguntas implícitas e explícitas da arte de ensinar. Logo, percebe-se que essa dinâmica
agrega valores ao ofício docente, favorecendo o desenvolvimento de uma metodologia
pró-ativa voltada ao exercício das competências. Supõe-se, desse modo, que o docente
será capaz de desenvolver virtudes que num dado momento se transformarão em
competências nesse ofício de ensinar, instrumentalizando o futuro egresso para atuar
European Journal of Education Studies - Volume 3 │ Issue 3 │ 2017
245
Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS:
EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE?
nas diversas situações que a atuação docente abrange, seja em sala de aula ou campo de
estágio.
Nessa ótica segundo o autor (Perrenoud, 2002), não se pode imaginar uma
abordagem por competências que não seja facilmente sensível às diferenças, a partir do
momento em que os alunos são colocados em situações em que, supostamente,
aprendem fazendo e refletindo sobre os obstáculos encontrados no dia a dia do contexto
acadêmico. Assim, o autor sugere Dez Grandes Famílias de Competências sendo que
para cada grande família esta subdivide-se em subfamílias que ao integrar-se propõe
um ensino voltado ao desenvolvimento de competências tanto no oficio docente quanto
discente. São elas: Organizar e dirigir situações de aprendizagem; Administrar a
progressão das aprendizagens; Conceber e fazer evoluir os dispositivos de
diferenciação; Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho; Trabalhar
em equipe; Participar da administração da escola; Informar e envolver os pais; Utilizar
novas tecnologias; Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; Administrar
sua própria formação contínua. (Perrenoud, 2000, p.12-12).
4. O ensino baseado em competências
Se a abordagem por competências não passar de uma linguagem da moda, ela
modificará apenas os textos e será rapidamente esquecida. Se sua ambição for a
transformação das práticas, ela passará a ser uma reforma do terceiro tipo, que não
pode economizar um debate sobre o sentido e as finalidades das academias e,
tampouco, instalar-se em um profundo divórcio entre aquilo que os docentes pensam e
aquilo que o sistema espera dela. Construir competências desde a escola requer
paciência e longo tempo (Perrenoud, 1999).
No ensino de graduação em Enfermagem isso não fica tão distante assim, à
medida que a profissão é influenciada pelo sistema. O repensar e o refletir sobre a
prática diária do ofício docente são necessários, para atender não só as necessidades do
mundo político e econômico, mas para mudar o contexto e o cenário em que a prática
diária docente encontra-se inserida que é no contexto sócio-cultural.
Ao preconizar um ensino baseado em competências para o ensino de graduação
em enfermagem, atesta-se que nenhum docente pode ser competente sozinho, visto que
ele precisa inserir e articular os saberes de outras áreas do conhecimento dentro de sua
disciplina ou área de atuação. Se nesse processo de ensino, houver falhas/deficiências na
aprendizagem, notoriamente o docente precisará não somente mobilizar seus
conhecimentos, mas também buscar auxílio em outras áreas de conhecimento, na
tentativa de que essa apreensão do saber aconteça não somente como uma avaliação
somativa, mas, que esse saber se dê de maneira duradoura e que possa ser útil para a
vida social e profissional desse indivíduo.
European Journal of Education Studies - Volume 3 │ Issue 3 │ 2017
246
Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS:
EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE?
Frente à pluralidade de significados atribuídos à palavra competência,
Perrenoud (1999, p. 7), prefere defini-la como: uma capacidade de agir eficazmente em um
determinado tipo de situação, apoiado em conhecimento, mas sem limitar-se a eles . Esse
mesmo autor Perrenoud,
, p.
, em outra definição diz que: a competência
profissional consiste na busca de um amplo repertório de dispositivos e de sequência na sua
adaptação ou construção, bem como, na identificação, com tanta perspicácia quanto possível, que
mobilizam e ensinam . Todavia, ratifica que essa competência é uma capacidade de
mobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar um tipo de situação-problema.
Assim as definições remetem à importância da articulação de determinados
recursos que utilizam, integram ou mobilizam tais conhecimentos que relacionados à
prática docente transformam-se em competências a partir das interpretações,
interpolações, inferências, invenções. Em suma, são complexas operações mentais, cujo
produto deve ser o encontro de estratégias para uma prática docente democrática,
revolucionária e competente.
5. O ensino de Enfermagem baseado em competências: antigas propostas e novos
desafios
O ensino nos moldes de bacharelado, como é oferecido na graduação de
Enfermagem, visa, em uma primeira instância ao preparo do profissional para uma
atuação generalista. São reduzidas a preocupação e a preparação desses futuros
egressos em relação a uma visão pedagógica à prática docente cenário este que, nos
últimos anos, tornou-se mais uma opção de campo de trabalho para o profissional de
Enfermagem, pelo aumento significativo de escolas de Enfermagem no Brasil (Junior,
2008).
Barbosa e Viana (2008), traçam a trajetória da formação do enfermeiro docentes e
dos cursos de graduação de enfermagem no Brasil pontuando documentos legais desde
1960 a 2007. A discussão inicia-se pela LDB nacional em 1961, passando a Reforma
Universitária em 1968 e chegando ao marco na década de 1970 com a oficialização dos
cursos lato e stricto senso, culminando na LDB vigente n° 9.394/1996. Para as autoras, a
formação docente, na atualidade, transcende os modelos antigos, tornando-se essencial
a criação de espaços acadêmicos para a reflexão e discussão sobre o que a atualidade
exige quanto ao ensino de Enfermagem para o novo século.
Nesse cenário promissor fomentado pelas LDB vigente, a implementação das
Diretrizes Curriculares Nacionais – (DCNs), para o curso de Graduação de
Enfermagem, propõe princípios conceituais, filosóficos e metodológicos quanto a
necessidade de mudança no ensino de Enfermagem, mudanças estas que apontam as
estratégias de ensino- aprendizagem como elementos relevantes na construção de uma
nova proposta pedagógica para a formação do enfermeiro (Fernandes, et al , 2005).
European Journal of Education Studies - Volume 3 │ Issue 3 │ 2017
247
Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS:
EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE?
Ao analisar a complexidade da temática em questão – (DCNs e Projetos
Pedagógicos), Mandú (2003), defende a necessidade de se ter uma política nacional de
investimentos que garanta as condições de mudanças quanto ao panorama atual do
ensino de Enfermagem. Aponta ainda, uma correlação entre o setor de educação e o da
saúde delineando a partir das DCNs, estratégias para sua implementação. Termina por
enfatizar em seu discurso que o ensino voltado ao desenvolvimento de competência é
uma proposta sedutora e que se bem aplicada pode dar conta do que o ensino propõe,
que é a responsabilidade social, sendo capaz de formar e transformar os cidadãos.
Corroborando a ideia de que o ensino por competências seja uma das possíveis
saídas para o ensino de graduação de Enfermagem, Vale e Guedes (2004),
contextualizam a discussão ratificando que a construção do ensino pautado nas
competências faz parte de um conjunto de ações que podem viabilizar uma melhor
formação para que o futuro egresso possa enfrentar as situações do cotidiano de
maneira consciente e segura. E, por meios dessas competências, seja possível direcionar
o ensino com vistas a associar a integralidade do fazer em saúde, como base no
aprender a fazer e no aprender a ser.
O relatório de Delors (2005) destaca, como ferramentas importantes nessa
proposta pedagógica, quatro pilares para o desenvolvimento de competências:
aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. As
discussões realizadas e enfatizadas no relatório incitam a abordagem por competências,
na atualidade como ferramentas indispensável à formação profissional do mundo
moderno. Esse método, segundo as autoras pode desvelar os nós a serem superados na
conformação de um profissional de enfermagem crítico, competente e agente de
transformação social.
Após a tentativa de compreender os critérios essenciais para execução das
propostas pedagógicas voltadas ao ensino por competências podem ser aplicados na
formação dos enfermeiros, Pode-se destacar: os caminhos e pressupostos pedagógicos; a
abordagem curricular por competências; o ensino de enfermagem; a avaliação
formativa. Em análise, apontam que o ensino por competências traz questões
complexas, que são merecedoras de reflexão e de discussão principalmente no campo
da prática. Compreende-se assim, que o ensino por competências vai de encontro à
transformação e dos paradigmas e conceitos atuais, desde que os docentes tenham uma
formação e um cenário que permitam a inserção dessa nova modalidade de ensino.
Ao compreender que o ensino de enfermagem se dá em ambiente específico seja
na sala de aula ou no campo prático, devem ser acionadas estratégias de ensino que
possam contemplar a complexidade daquilo que esteja ensinando. Essa associação
possibilita dentro do ensino de Enfermagem, seja no campo Educacional, Assistencial
ou Gerencial um pensar e um agir pautados na ação ética e política, viabilizando um
profissional reflexivo, competente e mais autônomo (Lessa; Araujo, 2013)
European Journal of Education Studies - Volume 3 │ Issue 3 │ 2017
248
Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS:
EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE?
7. Conclusão
O intuito dessa discussão e reflexão foi amplificar e fomentar o discurso sobre o ensino
baseado em competências. Enquanto indivíduos e profissionais inacabados estamos em
constante processo de formação, o qual perpassa por algumas variáveis, que é a busca
do conhecimento. Conhecimento este que se aprimora numa velocidade infindável e
que enquanto agente transformador da realidade seja, no âmbito acadêmico seja no
hospitalar deve ser acompanhado, com o propósito de atender as demandas vigentes
exercendo a profissão de enfermagem com autonomia, mas pautado no conhecimento
técnico-científico.
A prática docente precisa ser pensada e repensada. A proposta pedagógica
voltada ao desenvolvimento de competências estimula a prática reflexiva, tanto do
docente quanto do discente. A formação permanente do profissional pode ser a resposta
tão almejadas na atualidade, a tal reflexão com vistas ao desenvolvimento de
competências.
Referências
1. Barbosa ECV, Viana LO. Um olhar sobre a formação do enfermeiro/docente no
Brasil. Rev Enferm UERJ. [Internet]. v.16, n.3, p.399-344, 2008. Disponível em:
http://www.facenf.uerj.br/v16n3/v16n3a07.pdf
2. Bonfim, R. A. Competência profissional: uma revisão bibliográfica. Revista
Organização
Sistêmica.
v.1,
n.1.
p.46-63,
2012.
Disponível
em:
http://www.tc.df.gov.br/app/biblioteca/pdf/AR500493.pdf
3. Brasil. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos Lei n. 9.394, de 20 de
dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional
[Internet]. Brasília, DF 1996. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/19394.htm.
4. Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução
CNE/CES n° 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes curriculares
nacionais do curso de graduação em Enfermagem [Interntet]. Brasília, DF: Diário
Oficial da República Federativa do Brasil; 9 de nov. 2001. seção 1, p.37,
disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CSE03.pdf.
5. Delors, J. Organizador. A educação para o século XXI: questões e perspectivas.
Porto Alegre: Artmed; 2005.
6. Dias, I. S. Competências em Educação: conceito e significado pedagógico. Revista
Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. v.14,
n.1, p. 73-78, 2010. Disponível em:
European Journal of Education Studies - Volume 3 │ Issue 3 │ 2017
249
Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS:
EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE?
http://www.scielo.br/pdf/pee/v14n1/v14n1a08.pdf
7. Fernandes, J. D.; Xavier, I.M.; Ceribelli, M.I.P.F.; Bianco, M.H.C.; Maeda,
A.D.; Rodrigues, M.V.C. Diretrizes curriculares e estratégias para implantação
de uma nova proposta pedagógica. Rev Esc Enferm USP. v. 39, n.4, p.443-449,
2005.
8. Junior, M.A.F. Os Reflexos da formação inicial na atuação dos professores
enfermeiros. Rev Bras Enferm. v.61, n.6, p.866-871, 2008.
9. Lessa, A.B.S.L.; Araújo, C.N.V. A enfermagem brasileira: reflexão sobre sua
atuação política. Rev. Min. Enferm. v.17, n.2, p.474-480, 2013.
10. Mandú, E.N.T. Diretrizes curriculares e a potencialização de condições para
mudanças na formação dos enfermeiros. Rev Bras Enferm. v.56, n.4, p.348-350,
2003.
11. Perrenoud, P. A prática reflexiva no ofício de professor: profissionalização e
razão pedagógica. Porto Alegre: Artmed; 2002.
12. Perrenoud, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artes
Médicas Sul; 1999.
13. Perrenoud, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed; 2000.
14. Silva, G. B. Felicetti, V.L. Habilidades e competências na prática docente:
perspectivas a partir de situações-problema. Educação Por Escrito, Porto Alegre,
v.5, n.1, p.17-29, 2014.
15. Silva, R.M.; Silva, I.C.M.; Ravalia, R.A. Ensino de Enfermagem: Reflexões Sobre o
Estágio Curricular Supervisionado. v.1, n.1, p.37-41 2009. Disponível em:
http://web.unifoa.edu.br/praxis/numeros/01/37.pdf
16. Vale, E.G.; Guedes, M.V.C. Competências e habilidades no ensino de
administração em enfermagem à luz das Diretrizes Curriculares Nacionais. Rev
Bras Enferm. v.57, n.4, p.474-474, 2004.
European Journal of Education Studies - Volume 3 │ Issue 3 │ 2017
250
Cláudio José de Souza, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente
FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO ENFERMEIRO DOCENTE BASEADA EM COMPETÊNCIAS:
EXIGÊNCIA OU NECESSIDADE?
Creative Commons licensing terms
Author(s) will retain the copyright of their published articles agreeing that a Creative Commons Attribution 4.0 International License (CC BY 4.0) terms
will be applied to their work. Under the terms of this license, no permission is required from the author(s) or publisher for members of the community
to copy, distribute, transmit or adapt the article content, providing a proper, prominent and unambiguous attribution to the authors in a manner that
makes clear that the materials are being reused under permission of a Creative Commons License. Views, opinions and conclusions expressed in this
research article are views, opinions and conclusions of the author(s). Open Access Publishing Group and European Journal of Education Studies shall
not be responsible or answerable for any loss, damage or liability caused in relation to/arising out of conflicts of interest, copyright violatio ns and
inappropriate or inaccurate use of any kind content related or integrated into the research work. All the published works are meeting the Open Access
Publishing requirements and can be freely accessed, shared, modified, distributed and used in educational, commercial and non-commercial purposes
under a Creative Commons Attribution 4.0 International License (CC BY 4.0).
European Journal of Education Studies - Volume 3 │ Issue 3 │ 2017
251