A CRIANÇA NA VIOLÊNCIA INTERPARENTAL: UM ESTUDO DE CASOS / THE CHILD IN INTERPARENTAL VIOLENCE: A CASE STUDY
Abstract
A exposição das crianças aos diversos tipos de violência no meio familiar, traz consequências nefastas para o seu desenvolvimento. É fulcral analisar as consequências da violência interparental nas crianças que lhe são expostas. Constata-se a existência de alguns estudos sobre esta problemática. O objetivo deste estudo, num primeiro momento, consiste em analisar as histórias de vida de adolescentes expostos à violência interparental, bem como as características da violência interparental a que foram expostos, mais especificamente os intervenientes, o contexto, os tipos e a frequência da mesma. Num segundo momento, pretende-se analisar as reações destes adolescentes a esta violência, como as emocionais, comportamentais, atribuições de culpa, estratégias de coping, consequências e perspetiva futura. Optámos pela metodologia qualitativa, pelo estudo de caso, com múltiplos casos (três), sendo o instrumento de avaliação utilizado a entrevista semiestruturada. A amostra é não probabilística e de conveniência, constituída por três adolescentes com idades compreendidas entre os 13 e os 15 anos, expostos à violência interparental, entre os seus pais. No presente estudo as vítimas diretas são mulheres, parecendo existir uma tendência para os adolescentes intervirem nas agressões, no sentido de defenderem a progenitora. O espaço onde os ataques ocorrem é o doméstico e apresentam um carácter contínuo. Constatamos que os adolescentes expostos à violência interparental entre os seus pais saem profundamente afetados a nível psicológico, mas também a outros níveis, como o social ou o escolar. Evidenciam um impacto negativo, muito semelhante aos das crianças diretamente vitimadas, como podemos constatar não só pelas consequências emocionais e comportamentais, mas também pelos medos, insegurança, ansiedade, autorresponsabilização e estratégias de coping utilizadas.
The exposure of children to different types of violence in the family environment has harmful consequences for their development. It is essential to analyze the consequences of interparental violence on children who are exposed to it. The objective of this study, initially, is to analyze the life stories of adolescents exposed to interparental violence, as well as the characteristics of the domestic violence to which they were exposed, more specifically, the participants, the context, types, and their frequency. Secondly, we intend to analyze the reactions of these adolescents to this violence, such as emotional, behavioral, attribution of blame, coping strategies, consequences, and future perspectives. We opted for the qualitative methodology, the case study, with multiple cases (three), using the semi-structured interview as the evaluation instrument. The sample is non-probabilistic and by convenience, consisting of three adolescents aged between 13 and 15 exposed to domestic violence between their parents. In the present study, the direct victims are women, and there appears to be a tendency for adolescents to intervene in attacks to defend their mothers. The space where the attacks occur is domestic, and the violence is continuous over time. We found that adolescents exposed to domestic violence between their parents are deeply affected on a psychological level but also other levels, such as social or academic. They show a negative impact, very similar to that of directly victimized children, as we can see not only through the emotional and behavioral consequences but also through the fears, insecurity, anxiety, self-responsibility, and coping strategies used.
Article visualizations:
Keywords
Full Text:
PDFReferences
Alarcão M., 2000. (Des)Equilíbrios familiares: uma visão sistémica. Coimbra, Quarteto Editora.
Artz S, Jackson M, Rossiter K, Nijdam-Jones A, Géczy I, Porteous S, 2014. A comprehensive review of the literature on the impact of exposure to intimate partner violence for children and youth. International Journal of Child, Youth and Family Studies, 5(4): pp. 493-587, https://doi.org/10.18357/ijcyfs54201413274
Bandura A, 1977. Social learning theory. New Jersey: Prentice-Hall, Englewood Cliffs.
Bandura A, Ross D, Ross, S 1961. Transmission of aggression through imitation of aggressive models. Journal of Abnormal and Social Psychology, 63(3): 575–582, http://doi.org/10.1037/h0045925
Bardin L, 2011. Análise de conteúdo, Lisboa, Edições 70.
Browne A, 1993. Violence against women by male partners: prevalence, outcomes, and policy implications. American Psychologist 48 (10): 1077-1087, https://psycnet.apa.org/doi/10.1037/0003-066X.48.10.1077
Carlson J, Voith L, Brown J, Holmes M, 2019. Viewing children’s exposure to intimate partner violence through a developmental, social-ecological, and survivor lens: the current state of the field, challenges, and future directions. Violence Against Women 25(1): 6-28, https://doi.org/10.1177/1077801218816187
CIG, 2016. A violência doméstica: caracterização do fenómeno e respostas à sua erradicação. In AAVV, Violência doméstica: implicações sociológicas, psicológicas e jurídicas do fenómeno. Lisboa, CEJ, pp. 20-67.
CNPDPCJ, 2023. Avaliação da atividade das CPCJ – relatório anual 2022. Lisboa, CNPDPCJ.
Cirillo S, Di Blasio P, 1997. Ninos maltratados — diagnóstico y terapia familiar. Paidos.
Emery R, Laumann-Billings L, 1998. An overview of the nature, causes, and consequences of abusive family relationships: toward differentiating maltreatment and violence. American Psychologist 53(2): 121-135, https://doi.org/10.1037//0003-066x.53.2.121
Fantuzzo J, DePaola L, Lambert L, Martino T, Anderson G, Sutton S, 1991. Effects of interparental violence on the psychological and of young children. Journal of Consulting and Clinical Psychology 59(2): 258-265, https://psycnet.apa.org/doi/10.1037/0022-006X.59.2.258
Fong V, Hawes D, Allen J, 2017. A systematic review of risk and protective factors for externalizing problems in children exposed to intimate partner violence. Trauma Violence & Abuse, 20(2), https://doi.org/10.1177/1524838017692383
Fonseca N, Menezes M, 2022. Serviço Social da Guardinha: a intervenção com crianças e adolescentes num contexto pandémico. Gestão e Desenvolvimento 30: 267-288, https://doi.org/10.34632/gestaoedesenvolvimento.2022.11329
Fortin. M. (1996). O processo de investigação. Loures, Lusociência.
Gershoff E, Grogan-Kaylor A, 2016. Spanking and child outcomes: old controversies and new meta-analyses. Journal of Family Psychology, 30(4): 453-469, http://dx.doi.org/10.1037/fam0000191
Guerra P, 2021. Toda a criança quer viver em família: os colos da lei. Público, https://bit.ly/43MQiVG
Grevio, 2019. Baseline evaluation report: Portugal. Strasbourg, Council of Europe.
Grinberg, L. & Grinberg, R. (1998). Identidade e mudança. Lisboa, Climepsi.
Holmes M, Berg K, Bender A, Evans K, O’Donnell K, Miller E, 2022. Nearly 50 years of child exposure to intimate partner violence empirical research: evidence mapping, overarching themes and future directions. Journal of Family Violence 37: 1207-1219, https://doi.org/10.1007/s10896-021-00349-3
Howell K, Barnes S, Miller L, Graham-Bermann S, 2016. Developmental variations in the impact of intimate partner violence exposure during childhood. Journal of Injury and Violence Research 8(1): 43-57, doi: http://dx.doi.org/10.5249/jivr.v8i1.663
Jouriles E, Murphy C, O'Leary K, 1987. Interspousal aggression, marital discord and child problems. Journal of Consulting and Clinical psychological 57(3): 453-455, https://psycnet.apa.org/doi/10.1037/0022-006X.57.3.453
Kerig P, 1998. Moderators and mediators of the effects of interparental conflict on children’s adjustment. Journal of Abnormal Child Psychology 26(3): 199-212, https://doi.org/10.1023/a:1022672201957
Kertesz M, Fodgen L, Humphreys C, 2021. Domestic violence and the impact on children. In Devaney J, Bradbury-Jones C, Macy R, Øverlien C, Holt S, (ed.). The Routledge international handbook of domestic violence and abuse. New York, Routledge, pp. 128-140.
Kiess H, Bloomquist D, 1985. Psychological research methods a conceptual approach, London, Allyn & Bacon.
Lawson J, 2019. Domestic violence as child maltreatment: differential risks and outcomes among cases referred to child welfare agencies for domestic violence exposure. Children and Youth Services Review 989: 32-41, https://doi.org/10.1016/j.childyouth.2018.12.017
Lusa, 2019. Crianças e jovens assistiram a mais de 84 mil situações de violência doméstica em oito anos. Público, https://bit.ly/3Z5g076
MAI, 2022. Violência doméstica: relatório anual de monitorização 2021. Lisboa, SGMAI.
Matos A, 2001. A depressão, Lisboa, Climepsi.
Otaguiri A, Siqueira A, D’Affonseca A, 2022. Intervenções com grupos de mães e filhos expostos à VPI: uma revisão sistemática da literatura. Psicologia Teoria e Prática 24(1): 1-24, https://doi.org/10.5935/1980-6906/ePTPCP13295.pt
Paulino M, 2020. Violência doméstica e exposição à violência interparental. In Jornadas sobre violência doméstica. Lisboa, OA Conselho Regional de Lisboa, pp. 108-113.
Paulino M, 2019. Violência doméstica: impacto na estabilidade emocional das crianças acolhidas com familiares em casas de abrigo. In AAVV, Prevenir ou promover: uma solução para as crianças, Lisboa, CEJ, pp. 77-87.
Peled E, Davis D, 1995. Groupwork with children of battered woman: A practioner's guide, London, Sage Publications.
Ravi K, Tonui B, 2020. A systematic review of the child exposure to domestic violence scale. British Journal of Social Work, 50: 101-118, https://doi.org/10.1093/bjsw/bcz028
Rieffel R, 2003. Sociologia dos media, Porto, Porto Editora.
Rodrigues M, 2017. Violência doméstica e envolvimento parental na escola: perspectivas de mães e filhos. Tese de Doutoramento, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
Sá E, 2002. A vida não se aprende nos livros, Lisboa, Oficina do Livro.
Sani A, Carvalho C, 2018. Violência doméstica e crianças em risco: estudo empírico com autos da polícia portuguesa, https://dx.doi.org/10.1590/0102.3772e34417
Sani A, Cardoso D, 2013. A exposição da criança à violência interparental: uma violência que não é crime. Revista Julgar Online, 4: 1-10, https://bit.ly/44WPGxS
Sani A, 2002b. Crianças exposta à violência interparental. In C. Machado & R. Gonçalves. Violência e vítimas de crime, 2, Coimbra, Quarteto Editora, pp. 95-127.
Sani A, 2002a. As crianças e a violência – Narrativas de crianças vítimas e testemunhas de Crimes, Coimbra, Quarteto Editora.
Savopoulos P, et al., 2023. Intimate partner violence and child and adolescent cognitive development: a systematic review. Trauma, Violence & Abuse, 24(3): 1882-1907, https://doi.org/10.1177/15248380221082081
Senra L, Lourenço L, Pereira B, 2011. Características da relação entre violência doméstica e bullying: Revisão Sistemática da Literatura. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 4(3): 297-309.
SIG, 2023. Relatório anual de segurança interna 2022, https://bit.ly/48fD06y
Silva L, 1995. Entre marido e mulher alguém meta a colher, Santa Maria da Feira, A Bolina.
Vesterdal, J. (1991). Aspectos criminológicos dos maus tratos. Infância e Juventude (ed. Especial), pp 49-84.
Walker L, 1994. Abused women and survivor therapy: a practical guide for the psychotherapist, Washington, DC, American Psychological Association.
XXII Governo Constitucional, 2020. Guia de intervenção integrada junto de crianças ou jovens vítimas de violência doméstica. Lisboa, Ministério da Educação e Ciência.
Yaseen S, Jan S, Tabasum Z, 2020. Impact of domestic violence on children. Journal of Critical Reviews, 7(12): 4812-4816, 10.31838/jcdr.2020.7.12.687
DOI: http://dx.doi.org/10.46827/ejsss.v9i4.1635
Copyright (c) 2024 Manuel Menezes, Sónia Ribeiro
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.
The research works published in this journal are free to be accessed. They can be shared (copied and redistributed in any medium or format) and\or adapted (remixed, transformed, and built upon the material for any purpose, commercially and\or not commercially) under the following terms: attribution (appropriate credit must be given indicating original authors, research work name and publication name mentioning if changes were made) and without adding additional restrictions (without restricting others from doing anything the actual license permits). Authors retain the full copyright of their published research works and cannot revoke these freedoms as long as the license terms are followed.
Copyright © 2016 - 2023. European Journal Of Social Sciences Studies (ISSN 2501-8590) is a registered trademark of Open Access Publishing Group. All rights reserved.
This journal is a serial publication uniquely identified by an International Standard Serial Number (ISSN) serial number certificate issued by Romanian National Library. All the research works are uniquely identified by a CrossRef DOI digital object identifier supplied by indexing and repository platforms. All the research works published on this journal are meeting the Open Access Publishing requirements and standards formulated by Budapest Open Access Initiative (2002), the Bethesda Statement on Open Access Publishing (2003) and Berlin Declaration on Open Access to Knowledge in the Sciences and Humanities (2003) and can be freely accessed, shared, modified, distributed and used in educational, commercial and non-commercial purposes under a Creative Commons Attribution 4.0 International License. Copyrights of the published research works are retained by authors.